terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Quem descobriu o Brasil?

Você sabe quem descobriu nosso país? Um dos mais intrigantes mistérios da arqueologia subaquática de nossa nação, uma descoberta que poderia mudar a história do Brasil!

Em 1976 um mergulhador anônimo encontrou em águas próxima a Pedra do Xaréu, Ilha do Governador, Estado do Rio de Janeiro, fragmentos do que seria um vaso de cerâmica e duas ânforas intactas.

Segundo a pesquisadora americana, Elisabeth Will, as peças possuíam características romanas e poderiam ser do século III antes de Cristo.Já os especialistas brasileiros se mostraram céticos a descoberta.

Em 1982, o pesquisador e escritor americano Robert Marx, resolveu por conta própria fazer novas explorações na região onde encontrou vários fragmentos de ânforas. Porém sua maior descoberta foi o casco de uma embarcação romana provavelmente do século III.

- Tudo indica que este barco de madeira estaria transportando as ânforas, desviou-se de seu curso e chegou ao Brasil bem antes de Cabral.

A partir deste momento iniciou-se um conflito de interesses:

Marx acusou o governo brasileiro de esconder provas que poderiam tirar de Cabral o título de descobridor do Brasil. Por outro lado, a Marinha acusou o pesquisador de ser um farsante:

- Os objetos não eram tão antigos assim, eles pertenciam a uma caravela portuguesa do século XVI, naufragada na região.

A falsa descoberta teria como intuito valorizar ainda mais as peças que Robert Marx pretendia contrabandear (versão da marinha). Como resultado deste conflito, Robert Marx foi expulso do Brasil.

Para complicar ainda mais a história, um milionário chamado Américo Santarelli, alegou ser o dono da ânforas:

- Elas teriam sido produzidas neste século e foram enterradas no fundo do mar propositalmente para ganhar um aspecto envelhecido.

Veleiro romano com velas quadradas, 100 d. C (Museu do Bardo, Tunísia)

O Pesquisador Francisco Alves, da CNANS de Lisboa, chegou a declarar no ano de 2003, após rever documentos relativos ao caso, que uma embarcação romana pequena com apenas um mastro, navegando contra o vento, sem lugar para armazenar água potável suficiente para uma viagem tão longa, não poderia atravessar o oceano e chegar até o Brasil.

Acho que nunca conheceremos a verdade, afinal as ânforas desapareceram misteriosamente e até hoje ninguém sabe por onde elas andam. Algumas manchetes da mídia sobre o assunto:

Revista Manchete - O Mistério das ânforas gregas - 4/3/1978; Jornal do Brasil - Ânforas provam presença de fenícios no Brasil - 1° Caderno, 25/09/1982; Primeiro de Janeiro - Romanos no Brasil antes dos Portugueses - 7/10/1982; Diário de Notícias - Romanos chegam ao Brasil antes de Pedro Álvares Cabral - 22/10/1982; Revista Mergulhar - O Mistério das Ânforas - dezembro/1982; Correio da Manhã - Romanos no Brasil 17 séculos antes de Cabral - 21/12/1982; Diário de Notícias - Romanos no Brasil antes dos Portugueses - 26/02/1983; Manchete - Ânforas são falsas - 9/04/1983; Oceanic Society - Ancient Amphorae Found in Brasil -July/1984.

O Fantasma de Einfield


Objetos pegando fogo ou levitando, ruídos e batidas sem explicação e a possessão de uma criança, que entre outras coisas levitava até o teto. Conheça "O Fantasma de Enfield". Na foto: Janet levitando no quarto. A irmã, na cama ao lado está assustada e grita.

A Senhora Peggy Harper e seus quatro filhos moravam em uma casa na localidade de Enfield, Londres, Inglaterra, quando, entre agosto de 1977 e setembro de 1978, coisas estranhas começaram a acontecer.

Objetos pegavam fogo pela casa ou então voavam (uma vez, um brinquedo atravessou a sala e acertou na cabeça de um fotografo). Mas os maiores fenômenos aconteciam com Janet, a filha de 12 anos. A Garota entrava em estados de transe a muitas vezes levitava da cama, muitas vezes parando no teto. Sua voz também mudava durante o transe.

Este caso é interessante porque várias fotos foram tiradas dos fenômenos. Os pesquisadores colocavam câmeras com disparo automático pela casa e assim conseguiram diversas fotos. Com estas fotos eles procuravam provar de uma vez por todas a existência do paranormal, mas isto não foi possível.

Este é considerado um caso verdadeiro onde ocorreram diversas manifestação de fenômenos paranormais. A Família Harper sempre nega falar sobre os acontecimentos de 1977...


Fontes: http://www.unexplained-mysteries.com/articleenfield.shtml; http://www.zurichmansion.org/ghosts/video1.html; As Ciências Proibidas Nº 4 - Bruxaria e Satanismo. Editora Século Futuro. 1987. Pg: 28-29.

A lenda do Cavaleiro sem Cabeça


A lenda do Cavaleiro sem Cabeça (“The Legend of Sleepy Hollow”) ou A lenda da caverna adormecida é um conto de Washington Irving incluido na coleção The Sketch Book of Geoffrey Crayon, Gent., escrita enquanto o autor vivia em Birmingham, Inglaterra. A primeira publicação foi em 1820. Ao lado da história de “Rip Van Winkle”, “The Legend of Sleepy Hollow” é um dos primeiros exemplos da ficção norte-americana, lidos até hoje.

Enredo

A história se passa por volta de 1790 no assentamento americano-holandês de Tarrytown, New York (O autor escreveu “Tarry Town”), num lugar chamado Sleepy Hollow. Ichabod Crane, um magro, esguio e extremamente supersticioso mestre-escola de Connecticut, compete com o valentão Abraham “Brom Bones” Van Brunt pela mão da jovem de dezoito anos Katrina Van Tassel, filha única do rico fazendeiro Baltus Van Tassel.

O Prisioneiro dos Sonhos


Marcelo corria, perseguido por um enorme monstro, uma estranha criatura que iria devorá-lo, se o alcançasse. Seu braço sangrava, havia ali um ferimento profundo. Marcelo tropeça e cai, a fera avança contra ele, que grita e… acorda.

Havia sido um sonho, estava na cama com a namorada, que, assustada, dizia ter tido ele um pesadelo. Para acalma-lo ela o beija com ardor. Ele logo se excita, começando uma troca de carícias cada vez mais íntimas. Vai esquecendo o pesadelo, imerso em beijos. Fecha os olhos, em êxtase, mas ao abri-los, uma horrenda bruxa, o corpo flácido e enrugado, o semblante maligno, a risada estridente. Ele grita, sentindo o braço ferido pela serva de satã.

A mãe o sacode. Não há bruxa,havia sido outro pesadelo. Marcelo vê que os pais e irmãos, atraídos pelos gritos, estão no seu quarto. Ele chora. A mãe, carinhosamente, o abraça. Sob o lençol, centenas de vermes. Sua família se transforma em cadáveres decompostos. O pai não mais possui olhos, a língua do irmão mais velho cai da boca, enquanto todos procuram abraçá-lo. No seu próprio braço ele vê um buraco, uma enorme ferida, e grita com toda a força dos seus pulmões.


Marcelo acorda, mas está no nada. Está num pesadelo dentro de um pesadelo,numa seqüência que não sabe aonde acaba. Agora só há uma névoa, e ele, um filete de sangue escorrendo do braço.

Então ele se recorda. Lembra da sua tentativa de fugir da realidade, desinteressante, tediosa, e entrar no mundo dos sonhos. Queria “entrar na onda”, como diziam os colegas. Lembra-se da droga,da seringa,da picada… Talvez fosse uma overdose, não havia como saber. Talvez estivesse entre a vida e a morte.

Certeza mesmo, restava apenas uma: da névoa a sua frente surgiria o próximo monstro, o próximo grito, o próximo acordar, o próximo pesadelo, talvez por toda a eternidade.

Escrito por: Zé do Caixão

Anaconda

A anaconda (eunectes murinus), conhecida também por sucuri, entre outros nomes locais, habita por toda a América do Sul, desde a floresta amazônica até a Argentina. É uma das maiores serpentes do mundo, juntamente com a píton da Ásia, e ganhou fama de ser comedora de homens. No entanto, até agora, nunca se viu esse réptil devorando um ser humano, e tal como noutros casos, não passam de lendas, que vão passando de boca em boca, e de montagens fotográficas duvidosas. A anaconda é inclusive muito fugidia em relação aos humanos, evitando-os a todo o custo. Apesar de tudo, temos de considerar essa possibilidade, já que o grande tamanho das fêmeas permitiria que o fizessem com muita facilidade.

Lenda indígena

Existe uma lenda muito comum em tribos indígenas do Norte, explicando que Anaconda pode ser uma criatura mística ou amaldiçoada. A lenda conta que uma índia que vivia entre os rios Amazonas e Trombetas, teve dois filhos gêmeos. Quando os viu, quase morreu de susto por que eles não tinham a forma humana e sim de duas serpentes escuras. Assim mesmo a índia as batizou e atirou-as no rio, por que elas não podiam viver na terra.

As duas serpentes criaram-se livremente nas águas dos rios, cresceram muito deixando sua cor escura e tendo um tom esverdeado, elas assustavam pelo seu tamanho descomunal. As pessoas as chamavam de Cobra Norato e Maria Caninana. Cobra Norato era o homem, forte e bom, nunca fazia mal a ninguém, nunca deixava as pessoas morrerem afogadas nem serem devoradas por outros peixes grandes.

De vez em quando Cobra Norato ia visitar a sua mãe, para isso deixava a sua pele de serpente na beira do rio e se transformava em humano, depois da madrugada, regressava ao rio e voltava para dentro da pele de serpente que o aguardava para novamente ser Cobra Norato a serpente enorme assim como uma Anaconda.

Maria Caninana era perversa e malvada, devorava pescadores, revirava os barcos e canoas, nunca visitou sua mãe. Em Óbidos no Pará, havia outra Anaconda encantada, dormindo dentro da terra, em baixo da Igreja. Maria Caninana mordeu a serpente. Ela não acordou mas se mexeu fazendo a terra abalar e rachar desde o mercado até a Igreja.

Devido a todas as maldades da anaconda Maria Caninana, Cobra Norato foi obrigado a matá-la e ficou sozinho nadando pelos rios, quando havia festa ou eventos nos povoados e ribeirinhos, ele deixava a pele de serpente e ia dançar com as moças e conversar com os rapazes. Sempre pedia para os conhecidos que o desencantassem, para isso, bater com um ferro virgem em sua cabeça, e deitar três gotas de leite de mulher em sua boca. Muitos amigos de Cobra Norato tentaram fazer isso, mas quando viam a enorme serpente, fugiam apavorados.

Um dia Cobra Norato fez amizade com um soldado de Cametá. Era um homem muito destemido, e Cobra Norato o pediu que o desencantasse, o soldado não teve medo, arranjou um machado que não cortara pau, e um vidrinho de leite de mulher. Quando encontrou Norato dormindo, meteu-lhe o machado na cabeça e atirou as três gotas de leite entre seus enormes dentes aguçados. A serpente estremeceu e caiu morta. Dela saiu Cobra Norato, desencantado para sempre.

Essa lenda é muito comum em índios e alguns elementos são metáforas para esconder algum assunto proibido. Anaconda não tem muito haver com sobrenatural, mas essa lenda é mística e muitas historias fantásticas envolvendo serpentes gigantes, Anacondas são comuns pelo mundo e principalmente na America do Sul.


Fontes: Mistérios fantásticos: Anacondas; www.bicharada.net.

Ivan, o Terrível


Ivan, o Terrível foi o primeiro czar da Rússia, e seu comportamento arbitrário e cruel levou muitos a compara-lo a Vlad o Empalador, o Drácula histórico. Ivan herdou o título do Grão-Duque de Moscovy quando tinha 3 anos de idade e cresceu observando as famílias líderes (os boiardos) de sua terra liderarem os países por um período de caos, à medida em que lutavam entre si por parcelas de poder.

Tinha 17 anos quando um Conselho de Escolha surgiu para efetuar reformas. Embora eles tenham tido sucesso em acabar com o caos, Ivan discutiu continuamente com seus membros sobre uma vasta quantidade de assuntos administrativos.

Em 1564, frustado, abdicou repentinamente. Quando o povo exigiu seu retorno, pôde ditar os termos de sua reintegração e obter o poder quase absoluto. Movimentou-se rapidamente para estabelecer sua própia elite governamental, a Oprichnina, que retirou grande parte do poder remanescente das mãos do boiardos.

O reinado de duas décadas de Ivan foi marcado, em parte, pela sua conquista das terras ao longo do Rio Volga e por seu movimento para a Sibéria, assim como a desastrosa guerra em que se envolveu quando tentou sem sucesso capturar a Livônia (hoje Estônia).

Ele é mais lembrado, todavia não por suas ações políticas, mas por sua conduta pessoal. No afã de estabelecer, agia rapidamente na punição (e às vezes execução) de muitos que desafiavam seu reinado ou que de alguma forma mostrassem desrespeito pelo que ele considerava seu status engrandecido.

Entre as tendências excepcionais mais lembradas pelos seus conteporâneos, Ivan possuía um senso de humor negro, bem similar ao que fora atríbuido a Vlad. Freqüentemente, esse humor caracterizava as torturas e execuções daqueles que se tornavam o objeto de sua ira.

Conforme assinalou um historiador, S. K. Rosovetskii, muitas das histórias sobre Ivan eram variações daquelas atribuídas a Vlad um século antes. Por exemplo, havia a história folclórica romena sobre os cidadãos moradores da cidade de Tigorviste, a capital de Drácula. Os cidadãos tinham caçoado do irmão de Drácula. Em represália, ele reuniu os principais cidadãos (os boiardos) após as celebrações da Páscoa e, em suas melhores roupas, fez com que marchassem na construção do Castelo de Drácula. Ivan, reporta-se, fez algo parecido na cidade de Volgoda quando as pessoas o viram na manhã da Páscoa. Juntou-as todos ainda em suas melhores roupas de festa e construiu uma nova muralha para a cidade.

Talvez a mais famosa história de Drácula contada a partir de Ivan se referia ao enviado turco que se recusou a tirar seu chapéu na presença de Drácula. Este, em seguida, pregou o chapéu do homem a sua cabeça. Ivan, reporta-se, fez o mesmo com um diplomata italiano (ou, num relato alternativo, com um embaixador francês).

Ivan, como Vlad, muitas vezes se virava contra poderosas figuras da sociedade russa e as humilhava para evitar seu retorno à dignidade de seus cargos. Conta-se a história, por exemplo, de seu ataque sobre Pimen, o representante metropolitano russo-ortodoxo de Novgorod. Despiu-o de suas vestes litúrgicas e vestiu-o de ministrel ambulante (uma ocupação rejeitada pela igreja) e montou um casamento satírico no qual Pimen se casaria com uma égua. Apresentando o despido prelado com os sinais de seu novo status, uma gaita de foles e uma lira, Ivan despachou-o da cidade.

Ivan era diferente de Vlad com relação ao seu apetite sexual, tinha sete esposas e cerca de 50 concubinas. Também deixou os seus sucessores imediatos com uma herança mista. Embora tivesse expandido o território da Rússia, deixou o país na bancarrota e o descontentamento com seu reinado cresceu de forma contínua. Ivan, todavia, morreu de forma pacífica enquanto jogava xadrez, no dia 18 de março de 1584.

Fonte: the fallen angel web.

Noite na Taverna: Solfieri

II - Solfieri

...Yet one kiss on your pale clay
And those lips once so warm — my heart! my heart!

Cain. Byron

— Sabei-lo. Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença!

— Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão pôr aquele céu morno, o fresco das águas se exalava como um suspiro do leito do Tibre. A noite ia bela. Eu passeava a sós pela ponte de... As luzes se apagaram uma por uma nos palácios, as ruas se fazias ermas, e a lua de sonolenta se escondia no leito de nuvens. Uma sombra de mulher apareceu numa janela solitária e escura. Era uma forma branca. — A face daquela mulher era como a de uma estátua pálida à lua. Pelas faces dela, como gotas de uma taça caída, rolavam fios de lágrimas.

Eu me encostei a aresta de um palácio. A visão desapareceu no escuro da janela... e daí um canto se derramava. Não era só uma voz melodiosa: havia naquele cantar um como choro de frenesi, um como gemer de insânia: aquela voz era sombria como a do vento a noite nos cemitérios cantando a nênia das flores murchas da morte.

Depois o canto calou-se. A mulher apareceu na porta. Parecia espreitar se havia alguém nas ruas. Não viu a ninguém: saiu. Eu segui-a.

A noite ia cada vez mais alta: a lua sumira-se no céu, e a chuva caía as gotas pesadas: apenas eu sentia nas faces caírem-me grossas lágrimas de água, como sobre um túmulo prantos de órfão.

Andamos longo tempo pelo labirinto das ruas: enfim ela parou: estávamos num campo.

Aqui, ali, além eram cruzes que se erguiam de entre o ervaçal. Ela ajoelhou-se. Parecia soluçar: em torno dela passavam as aves da noite.

Não sei se adormeci: sei apenas que quando amanheceu achei-me a sós no cemitério. Contudo a criatura pálida não fora uma ilusão: as urzes, as cicutas do campo-santo estavam quebradas junto a uma cruz.

O frio da noite, aquele sono dormido à chuva, causaram-me uma febre. No meu delírio passava e repassava aquela brancura de mulher, gemiam aqueles soluços e todo aquele devaneio se perdia num canto suavíssimo...

Noite na Taverna

I - Uma Noite do Século

Bebamos! nem um canto de saudade!
Morrem na embriaguez da vida as dores!
Que importam sonhos, ilusões desfeitas?
Fenecem como as flores!

José Bonifácio

— Silêncio, moços! acabai com essas cantilenas horríveis! Não vedes que as mulheres dormem ébrias, macilentas como defuntos? Não sentis que o sono da embriaguez pesa negro naquelas pálpebras onde a beleza sigilou os olhares da volúpia?

— Cala-te, Johann! enquanto as mulheres dormem e Arnold — o louro, cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e a lua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passada ao reflexo das taças?

— És um louco, Bertram! não é a lua que lá vai macilenta: e o relâmpago que passa e ri de escárnio as agonias do povo que morre... aos soluços que seguem as mortalhas do cólera!

— O cólera! e que importa? Não há por ora vida bastante nas veias do homem? não borbulha a febre ainda as ondas do vinho? não reluz em todo o seu fogo a lâmpada da vida na lanterna do crânio?

— Vinho! vinho! Não vês que as taças estão vazias bebemos o vácuo, como um sonâmbulo?

— É o Fichtismo na embriaguez! Espiritualista, bebe a imaterialidade da embriaguez!

— Oh! vazio! meu copo esta vazio! Olá taverneira, não vês que as garrafas estão esgotadas? Não sabes, desgraçada, que os lábios da garrafa são como os da mulher: só valem beijos enquanto o fogo do vinho ou o fogo do amor os borrifa de lava?

— O vinho acabou-se nos copos, Bertram, mas o fumo ondula ainda nos cachimbos! Após os vapores do vinho os vapores da fumaça! Senhores, em nome de todas as nossas reminiscências, de todos os nossos sonhos que mentiram, de todas as nossas esperanças que desbotaram, uma última saúde! A taverneira ai nos trouxe mais vinho: uma saúde! O fumo e a imagem do idealismo, e o transunto de tudo quanto ha mais vaporoso naquele espiritualismo que nos fala da imortalidade da alma! e pois, ao fumo das Antilhas, a imortalidade da alma!

— Bravo! bravo!

Um urrah! tríplice respondeu ao moço meio ébrio.

Um conviva se ergueu entre a vozeria: contrastavam-lhe com as faces de moço as rugas da fronte e a rouxidão dos lábios convulsos. Por entre os cabelos prateava-se-lhe o reflexo das luzes do festim. Falou:

— Calai-vos, malditos! a imortalidade da alma!? pobres doidos! e porque a alma é bela, por que não concebeis que esse ideal posse tornar-se em lodo e podridão, como as faces belas da virgem morta, não podeis crer que ele morra? Doidos! nunca velada levastes porventura uma noite a cabeceira de um cadáver? E então não duvidastes que ele não era morto, que aquele peito e aquela fronte iam palpitar de novo, aquelas pálpebras iam abrir-se, que era apenas o ópio do sono que emudecia aquele homem? Imortalidade da alma! e por que também não sonhar a das flores, a das brisas, a dos perfumes? Oh! não mil vezes! a alma não é como a lua, sempre moça, nua e bela em sue virgindade eterna! a vida não e mais que a reunião ao acaso das moléculas atraídas: o que era um corpo de mulher vai porventura transformar-se num cipreste ou numa nuvem de miasmas; o que era um corpo do verme vai alvejar-se no cálice da flor ou na fronte da criança mais loira e bela. Como Schiller o disse, o átomo da inteligência de Platão foi talvez para o coração de um ser impuro. Por isso eu vo-lo direi: se entendeis a imortalidade pela metempsicose, bem! talvez eu a creia um pouco; pelo platonismo, não!

— Solfieri! és um insensato! o materialismo é árido como o deserto, é escuro como um túmulo! A nós frontes queimadas pelo mormaço do sol da vida, a nós sobre cuja cabeça a velhice regelou os cabelos, essas crenças frias? A nós os sonhos do espiritualismo.

— Archibald! deveras, que é um sonho tudo isso! No outro tempo o sonho da minha cabeceira era o espírito puro ajoelhado no seu manto argênteo, num oceano de aromas e luzes! Ilusões! a realidade é a febre do libertino, a taça na mão, a lascívia nos lábios, e a mulher seminua, trêmula e palpitante sobre os joelhos.

— Blasfêmia! e não crês em mais nada? teu ceticismo derribou todas as estátuas do teu templo, mesmo a de Deus?

— Deus! crer em Deus!?... sim! como o grito íntimo o revela nas horas frias do medo, nas horas em que se tirita de susto e que a morte parece roçar úmida por nós! Na jangada do náufrago, no cadafalso, no deserto, sempre banhado do suor frio do terror e que vem a crença em Deus! Crer nele como a utopia do bem absoluto, o sol da luz e do amor, muito bem! Mas, se entendeis por ele os ídolos que os homens ergueram banhados de sangue e o fanatismo beija em sua inanimação de mármore de há cinco mil anos... não creio nele!

— E os livros santos?

— Miséria! quando me vierdes falar em poesia eu vos direi: aí há folhas inspiradas pela natureza ardente daquela terra como nem Homero as sonhou, como a humanidade inteira ajoelhada sobre os túmulos do passado nunca mais lembrará! Mas, quando me falarem em verdades religiosas, em visões santas, nos desvarios daquele povo estúpido, eu vos direi: miséria! miséria! três vezes miséria! Tudo aquilo é falso: mentiram como as miragens do deserto!

— Estas ébrio, Johann! O ateísmo é a insânia como o idealismo místico de Schelling, o panteísmo de Spinoza — o judeu, e o esterismo crente de Malebranche nos seus sonhos da visão em Deus. A verdadeira filosofia e o epicurismo. Hume bem o disse: o fim do homem é o prazer. Daí vede que é o elemento sensível quem domina. E pois ergamo-nos, nos que amanhecemos nas noites desbotadas de estudo insano, e vimos que a ciência é falsa e esquiva, que ela mente e embriaga como um beijo de mulher.

— Bem! muito bem! é um toast de respeito!

— Quero que todos se levantem, e com a cabeça descoberta digam-no: Ao Deus Pã da natureza, aquele que a antigüidade chamou Baco o filho das coxas de um deus e do amor de uma mulher, e que nos chamamos melhor pelo seu nome — o vinho!...

— Ao vinho! ao vinho!

Os copos caíram vazios na mesa.

— Agora ouvi-me, senhores! entre uma saúde e uma baforada de fumaça, quando as cabeças queimam e os cotovelos se estendem na toalha molhada de vinho, como os braços do carniceiro no cepo gotejante, o que nos cabe é uma historia sanguinolenta, um daqueles contos fantásticos como Hoffmann os delirava ao clarão dourado do Johannisberg!

— Uma história medonha, não, Archibald? falou um moço pálido que a esse reclamo erguera a cabeça amarelenta. Pois bem, dir-vos-ei uma historia. Mas quanto a essa, podeis tremer a gosto, podeis suar a frio da fronte grossas bagas de terror. Não é um conto, é uma lembrança do passado.

— Solfieri! Solfieri! aí vens com teus sonhos!

— Conta!

Solfieri falou: os mais fizeram silêncio.
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Álvares de Azevedo (Manuel Antônio Álvares de Azevedo), poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831, e faleceu o Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.

Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo (Manuel Antônio Álvares de Azevedo), poeta, contista e ensaísta, nasceu em São Paulo em 12 de setembro de 1831, e faleceu o Rio de Janeiro, RJ, em 25 de abril de 1852. Patrono da Cadeira n. 2 da Academia Brasileira de Letras, por escolha de Coelho Neto.

Era filho do então estudante de Direito Inácio Manuel Álvares de Azevedo e de Maria Luísa Mota Azevedo, ambos de famílias ilustres. Segundo afirmação de seus biógrafos, teria nascido na sala da biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo; averiguou-se, porém, ter sido na casa do avô materno, Severo Mota.

Em 1833, em companhia dos pais, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 40, ingressou no colégio Stoll, onde consta ter sido excelente aluno. Em 44, retornou a São Paulo em companhia de seu tio. Regressa, novamente ao Rio de Janeiro no ano seguinte, entrando para o internato do Colégio Pedro II.

Em 1848 matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo, onde foi estudante aplicadíssimo e de cuja intensa vida literária participou ativamente, fundando, inclusive, a Revista Mensal da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano.

Entre seus contemporâneos, encontravam-se José Bonifácio (o Moço), Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães estes dois últimos suas maiores amizades em São Paulo, com os quais constituiu uma república de estudantes na Chácara dos Ingleses.

O meio literário paulistano, impregnado de afetação byroniana, teria favorecido em Álvares de Azevedo componentes de melancolia, sobretudo a previsão da morte, que parece tê-lo acompanhado como demônio familiar.

Imitador da escola de Byron, Musset e Heine, tinha sempre à sua cabeceira os poemas desse trio de românticos por excelência, e ainda de Shakespeare, Dante e Goethe.

Proferiu as orações fúnebres por ocasião dos enterros de dois companheiros de escola, cujas mortes teriam enchido de presságios o seu espírito. Era de pouca vitalidade e de compleição delicada; o desconforto das "repúblicas" e o esforço intelectual minaram-lhe a saúde.

Nas férias de 1851-52 manifestou-se a tuberculose pulmonar, agravada por tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, um mês antes. A dolorosa operação a que se submeteu não fez efeito. Faleceu às 17 horas do dia 25 de abril de 1852, domingo da Ressurreição.

Como quem anunciasse a própria morte, no mês anterior escrevera a última poesia sob o título "Se eu morresse amanhã", que foi lida, no dia do seu enterro, por Joaquim Manuel de Macedo.

Entre 1848 e 1851, publicou alguns poemas, artigos e discursos. Depois da sua morte surgiram as Poesias (1853 e 1855), a cujas edições sucessivas se foram juntando outros escritos, alguns dos quais publicados antes em separado.

As obras completas, como as conhecemos hoje, compreendem: Lira dos vinte anos; Poesias diversas, O poema do frade e O conde Lopo, poemas narrativos; Macário, "tentativa dramática"; A noite na taverna, contos fantásticos; a terceira parte do romance O livro de Fra Gondicário; os estudos críticos sobre Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla, além de artigos, discursos e 69 cartas.

Preparada para integrar As três liras, projeto de livro conjunto de Álvares de Azevedo, Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães, a Lira dos vinte anos é a única obra de Álvares de Azevedo cuja edição foi preparada pelo poeta. Vários poemas foram acrescentados depois da primeira edição (póstuma), à medida que iam sendo descobertos.

Fonte: Academia Brasileira de Letras www.academia.org.br